UVVA, dia 2

O meu segundo dia começou com o nascer do sol.
Acreditando estar longos minutos atrasada, corri para a sala de pequenos-almoços com a escusa pronta "Desculpem! Ser mulher tem mais pormenores de manhã...", mas, espanto dos espantos, fui a primeira a chegar! Homens!!!
Ora, a manhã começou com uma viagem à Casa de Cello, em Mancelos, a quinze minutos do UVVA, a primeira de duas visitas na sub-região de Amarante.
Esta casa e os seus proprietários têm como aposta contrariar o dogma que os vinhos verdes se bebem novos e que não são capazes de envelhecer na garrafa.
Após uma visita à casa e aos seus terroirs,  encaminharam-me para a adega da propriedade, onde, rodeada de pipas e cubas, fiz uma prova de vários vinhos.
O primeiro foi Quinta de Sanjoanne Terroir Mineral, 2017, onde o Avesso é mais evidente, com a sua estrutura mais gorda, do que o Loureiro. Ao Quinta de Sanjoanne Alvarinho 2016, seguiu-se o Quinta de Sanjoanne Superior 2015, um blend de Malvasia e Alvarinho. Neste vinho, é realizada a bâtonnage durante 12 meses, isto é, o agitar do vinho e das suas borras, na maioria leveduras, algumas grainhas, pedaços de película de uva e poeiras que melhoram o gosto e textura do vinho, aqui notório através das notas de manteiga e de um fim de boca alegre e presente. A Tatiana Vale, a enóloga que tão bem me recebeu, serviu-me uma surpresa, o Quinta de Sanjoanne Superior, 2007. Este vinho, tal como o anterior, foram produzidos em anos considerados de grande qualidade, como se nota na juventude de um vinho com 12 anos. Eu adoro vinhos com uma certa idade, onde a evolução é evidente e o óbvio passa a letificado, pontuado com notas doces de laranja com canela.
A viagem continuou e cheguei à Lixa, ao Monverde - Wine Experience Hotel, onde pude ser enóloga por uma hora, com vinhos produzidos na Quinta da Lixa. Foram-me apresentadas cinco pequenas cubas de inox com cinco castas, a Trajadura que trazia os seus aromas a maçã, o Alvarinho e a sua frescura, o Loureiro com as suas notas a tília e flor de laranjeira, o Arinto, todo cítrico, e por fim o Avesso, que me cheirou à cor castanha. Eu sei que só eu me lembro disto, mas se o castanho tem aroma e sabor é o Avesso de Monverde. Comecei a envolver as castas, ora aos pares, ora numa trindade, até tentei uma quadra. Fiquei ali perdida no tempo. A receita que mais gostei foi um
vinho com Alvarinho, Avesso e Arinto, e a que mais me surpreendeu foi obtida com Avesso e uma pequena parte de Loureiro, o castanho com toques florais, a qual engarrafei. 
Na varanda do hotel, encantei o meu olhar enquanto degustava um espumente pet nat travesso e cheio de inspiração. 
O almoço na grande sala do hotel foi iniciado com a bela entrada de Rodovalho com crosta de pinhões e ervas e pequeno vol-au-vent de cogumelos campestre, harmonizado com vinho Aroma de Castas, o casamento perfeito entre o Alvarinho e a Trajadura. Um pequeno momento perfeito entre conversas animadas que tive com os colegas comensais.
O Bacalhau em Caldeirada com estaladiço das suas línguas teve por companhia o Pouco Comum - Alvarinho. Só tenho um comentário a fazer, Experimentem!
O Tornedó Rossini no ponto com todos os seus sucos  servido com Quinta da Lixa Reserva – Tinto, estava soberbo em todos os pormenores, em especial no foie de canard que me soube a muito, mesmo muito pouco! Um mimo para saborear bem devagarinho. Surpreendente! 
Mal provei a sobremesa, Toucinho do Céu com carpaccio de pêra em vinho do porto acompanhada pela Aguardente Morgado da Vila. Não consigo tecer comentários a este momento degustativo dada a minha incapacidade para o saborear depois do que comi com os antecedentes servidos. Por este motivo, terei de repetir esta experiência gastronómica. Uma culpa imposta para me presentear com mais vivências.
Sintetizando, neste almoço fui cativada.
De regresso ao UVVA, voltei a perder-me no mundo de vinhos e garrafas.
Com as memórias ainda frescas do dia anterior, quis repetir a minha prova nos vinhos do Ajts. E foi o que fiz melhor! Voltei a provar o vinho verde branco de 2018, que já mora cá em casa, e fiz uma vertical do Vinho Verde Tinto. Provei o Vinhão de 2018, 2017 e 2015, preferindo este último que me encantou com a elegância conseguida num vinho com este perfil.
Saltei do Ajts para o projecto dos Santos e ainda para o do Chapeleiro, onde bebi o Reserva 2016, um vinho que já morou na minha casa, que está ainda melhor do que em 2018, quando o bebi pela primeira vez. Visitei o projeto AB Valley Wines, onde destaco o Avesso B, um vinho com madeira, e o seu Azal D, com uma doçura pouco usual na região dos vinhos verdes. Este projecto tem letras para as suas opções: A de aroma, B de barrica, C de colheita tardia, D de doce, E para um futuro espumante e F para os seus fora da caixa, como é o caso do Naked, um vinhão branco.
Seguiu-se o Marquês de Lara com os seus vinhos de castas diferentes, e terminei na Quinta dos Carapeçosonde sabor morangos num copo, o Eira dos Mouros 2018, um vinho rosé feito com Espadeiro e Touriga Nacional, o espumante Quinta dos Carapeços Blanc de Blancs Sec com as suas bolhinhas saltitantes num bouquet de frutos secos, e outra vez um vinhão, o Quinta de Carapeços Vinhão com a sua rusticidade e autenticidade, que fez terminar estas provas com a certeza da graça divina do S. Gonçalo.
Antes de abandonar os claustros a Sónia Files, a minha excelente guia desse dia, deu-me a oportunidade de saborear os belos doces da Confeitaria Lailai, que eu já conhecia e me invocaram os gloriosos anos 80 com meu avô, sentada na velha fonte, onde a água crepitava.

Agradeço a Amarante, ao Tiago Ferreira, à Sónia e a todos os envolvidos, o excelente fim de semana que deliciei.

Até breve,


Menina do Livrinho . wine

Comentários

  1. Que maravilha! Até me cresceu água na boca...
    E que bem que a menina escreve 😉

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    1. Fico Feliz por lhe poder proporcionar tais sensações!

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    2. Fico feliz por lhe poder proporcionar tais sensações.

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