No Vale dos Tourais

Numa tarde tórrida de julho rumei a Vale de Tourais, o actual Vale Abraão, à bela Quinta de Tourais, onde o enólogo Fernando Coelho e sua mulher Liliana me receberam.
Na quinta de 8 hectares, herdada dos avós, existe uma adega com o seu lagar de granito, a sala de prova, a casa de família, que se misturam com as vinhas de dezoito castas e onde eu poderia pernoitar e descansar num dos quartos preparados para turismo rural.
O que mais me impressionou foram os vinhos e as garrafas com belos rótulos gravados, de diferentes artistas convidados. 
Verdadeiras pérolas fora da caixa, numa região que ainda se mostra muito clássica.

Para dar início ao almoço da anfitriã, foi servido o Tourónio Branco, 2019, um blend de quatro castas, o querido Rabigato, o Viosinho, o Gouveio e o Esgana-Cão, também conhecido por Cerceal. Do copo saíam aromas frescos que convidavam a beber no meio do calor. Na boca, novamente a frescura aparecia, casada com uma acidez, que convidava a beber e conversar. Este é um vinho para beber enquanto lês o que escrevo, ou enquanto descansas ociosamente junto à piscina. 

O Tourónio Rosé 2019, um vinho cheio de estrutura com 95% de Touriga Nacional e 5% Tinto Cão, foi seguido pelo Miura, Curtimenta, 2017, um orange apaixonante. O desengace das castas Viosinho, Rabigato, Gouveio e Esgana Cão é total. A fermentação ocorre em lagares graníticos com pisa a pé, o estágio é de um ano em barrica de carvalho francês usada com batonage e de dezoito meses em garrafa. Este vinho é oloroso, e na boca acaricia com volume, estrutura,  acidez, e  com aquele amargor fabuloso que me faz desejar não o parar de beber.  E foi o que fiz. Pedi um novo copo de prova para os próximos vinhos e fui bebericando daquele — Shiuuuu, por favor, não comentes este deslize no protocolo — onde as amêndoas casam com o damasco, e o final de boca é longo e feliz. Que pena serem só 600 garrafas.

Num casal enamorado tinha que haver um vinho de amor. 
Assim, surge a Lilipop.
Uma gama de vinhos ousados dedicados à Liliana.
Começo com o Lilipop Branco 2019, um vinho com Viosinho e Esgana-Cão fermentado em ânfora, ao qual se juntou Gouveio e Rabigato, fermentados em barrica de carvalho francês, e que juntos estagiaram seis meses em barricas. Não sei se me vou fazer entender, mas para um vinho que brada ao romance, posso tentar romancear. Este vinho não é perfumado, é perfumoso. Adorei este jogo de palavras que surgiram quando o cheirei. Um golo mostrou a enorme acidez, a gordura da manteiga e o sabor delicioso a terra. Maravilhoso.

Com a mesma originalidade surge o Lilipop Lúpulo, 2019. Um blend das castas Rabigato, Gouveio e Esgana Cão, onde no final da fermentação se adicionou lúpulo, uma planta trepadeira responsável pelo amargor e aroma à cerveja! Num primeiro impacto era capaz de jurar tratar-se de um moscatel galego, mas passado um par de minutos a cheira-lo e a esquecer ser um vinho, apareceram os aromas tão característicos da cerveja. Originalíssimo. 
O terceiro e último Lilipop, é o Lilipop 40, um vinho tinto produzido com uma única casta, o Tinto Cão. Muito elegante, com taninos macios, aroma a bosque,  paladar a amoras e mirtilos maduros, mostra-se presente e muito bem casado com a madeira.

Depois do Tourónio tinto, 2017, um blend produzido com Touriga Nacional, Tinto Cão, Tinta Roriz e Souzão, fermentado em lagar  e estagiado em madeira, chega o Miura Tinto Space Invaders, que defino numa só palavra, incrível! 
É a mistura de vinhos dos anos 2017, 2018 e 2019, produzido com as castas Touriga Franca (60%), Tinto Cão, Sousão e Alicante Bouschet e, com 12 meses de estágio em barricas de carvalho Francês maioritariamente usadas. Resina, especiarias, calor e frutos do bosque bem maduros é o que mais se revela neste vinho complexo. Este garantidamente vai viver na minha garrafeira.
Para finalizar, foi servido Miura Tinto 2016, Grande Reserva, um blend das castas Sousão, Tinto Cão e Alicante Bouchet. Este vinho de aroma doce a frutos vermelhos, mostra-se taninoso, rugoso, cheio de pimenta preta e compota de frutos vermelhos. O fim de boca encanta com o sabor longo da compota.

Que forma maravilhosa de retomar a visita às quintas e adegas de Portugal.

Agradeço a hospitalidade dos meus anfitriões Liliana e Fernando Coelho e o convite do José Carneiro Pinto.

Até breve


Menina do Livrinho . wine

Comentários

  1. Um lote muito interessante de vinhos, com uma descrição que apela à prova :-)

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