Turra, o melhor amigo do Homem e vinho de bons momentos!

Hoje provei os vinhos Turra(link) de 2019, no seu lançamento em vinte vinte.
Turra é a marca de vinho verde da sub-região de Basto, e o nome do cão da família. As suas uvas são provenientes da Quinta de Figueiredo, propriedade de família de um dos dois donos do projeto, em Celorico de Basto.
As opiniões entre os presentes na prova destes vinhos foram diversas, contrastantes, antagónicas...mas eu era a única mulher, e distingo-me por dois perfis: o de Provadora-Sommelier — que analisa, cheira, sente, bebe, regista e acompanha o vinho — e o de Mulher Social — que bebe e deseja que o vinho a acompanhe. 

Começámos com os Pet Nat, vinhos produzidos por métodos biológicos, uma aposta dos donos Bruno Mota(→) e Nuno Andrade(→). São os primeiros do enólogo Constantino Ramos(→), que acedeu à arrojada e certeira proposta do José Carneiro Pinto(→), para os produzirem.

O PET NAT Branco 2020 é um vinho produzido com a casta Azal, uma casta especial que só existe na região dos vinhos verdes.  Esta monocasta é a ideal para um início de serão, onde as novidades entre amigos são muitas e a vontade de falar tem que ser acompanhada por um vinho que estimule e dê prazer.
Um aroma limpo, de uma intensidade presente e ainda muito jovem — 6 dias em garrafa — onde as maçãs aromatizam alegremente. Alguns minutos depois, apareceram enriquecedoras notas mentoladas.
Na boca, é pura empatia entre beber e triscar. Com o açúcar na casa dos cinco gramas por litro (aqui foi usado o método ancestral, aquele usado pelos os meus avós e por todos os avós dos winephilos da minha geração), é um vinho que faz lembrar o melhor de um blend entre cidra irlandesa e vinho verde. 
Ainda um pouco doce demais por ser jovem, com uma acidez contida e teor alcoólico de 11,5%, de corpo presente que saltita na boca, uma bolha muito miúda, um sabor pronunciado a maçãs e a pimenta branca, é a ideal para partilhar, sem precisar de petiscar.
O seu maior defeito? Só existem 500 garrafas. Uma virtude? Tem um PVP de 11,75€, que permite que quando acabe uma garrafa, apareça logo outra. 
Donc(caso precises tradução), um vinho para a Mulher Social.

Outro vinho desta casa é o PET NAT Rosé 2020, um varietal produzido com uma casta autóctone e raríssima, a Rabo de Anho.
De um rosado cheio de cor, este vinho tem olor a morangos e groselhas, uma acidez que marca, um tanino delicado, 11,5% de grau alcoólico.  Um sabor presente que acompanha o olor. O final de boca fica pronto a acompanhar todas as tapas que lhe quiserem oferecer... sardinhas fritas, lulinhas com limão, chouriço fumado, ou até mesmo pequenos traços de peixes prontos a picar.

No almoço, onde os clássicos Turra branco 2018 e Turra tinto 2018 estiveram presentes, surgiu o Turra Craft. Este vinho vai variar todos os anos, expressando caraterísticas que os donos e o enólogo acreditem ser diferenciadoras, como terroir, casta, vinha, ou outro pormenor que aquele período em particular possa estimular.

Um pouco de história para winephilos | A Região dos Vinhos Verdes

A Região dos Vinhos Verdes tornou-se demarcada em 18 de Setembro de 1908, durante o reinado de Manuel II, o último Rei de Portugal e dos Algarves, e situa-se na região noroeste de Portugal. 
É a maior região demarcada de Portugal, e uma das maiores do Velho Mundo vínico, a Europa. Divide-se em nove sub-regiões, com diferentes castas recomendadas e caracteriza-se por vinhos ácidos e frescos com baixo teor alcoólico. 

    A Sub-região da Amarante integra os concelhos de Amarante e Marco de Canaveses e as castas que a definem são o Azal e Avesso, nas uvas brancas, Amaral e Espadeiro, nas uvas tintas. O Vinhão, a casta tinta mais conhecida desta região, produz vinhos com cor carregada e vivazes. 

    Sub-região do Ave integra os concelhos de Vila Nova de Famalicão, Fafe, Guimarães, Santo Tirso, Trofa, Póvoa de Lanhoso, Vieira do Minho, Póvoa de Varzim, Vila do Conde e parte do concelho de Vizela.  As castas que melhor a definem são o Arinto, o Loureiro e a Trajadura.

    Sub-região de Baião integra os concelhos de Baião, parte de Resende, parte de Cinfães e faz fronteira com a Região Demarcada do Douro. As castas brancas AzalAvesso e a tinta Amaral são as que melhor resultados obtêm neste terroir.

Sub-região de Basto, de onde são os vinhos que hoje apresento, integra os concelhos de Cabeceiras de Basto, Celorico de Basto, Mondim de Basto e Ribeira de Pena, e é a região mais interior. Tem uma altitude média elevada que a  resguarda dos ventos marítimos, com invernos frios e chuvosos e verões quentes e secos, que promovem as castas de maturação tardia como o Azal, o Espadeiro e o Rabo-de-Anho. Nesta sub-região considera-se que a casta Azal atinja o seu máximo apogeu e características particulares de aroma a limão e maçã verde e sabor fresco. 

    Sub-região do Cávado integra os concelhos de Esposende, Barcelos, Braga, Vila Verde, Amares e Terras de Bouro, promove as castas brancas Arinto, Loureiro e Trajadura  As castas tintas são o Vinhão e o Borraçal, normalmente produzidas como blend.

    A Sub-região do Lima integra os concelhos de Viana do Castelo, Ponte de Lima, Ponte da Barca e Arcos de Valdevez. A casta Loureiro é famosa neste local, mas também existem as castas brancas Arinto e Trajadura e castas tintas Vinhão e Borraçal.

    Sub-região de Monção e Melgaço, integra os concelhos de Monção e Melgaço.
Aqui o Alvarinho é o ex-libris, sendo a única casta branca desta sub-região. As castas tintas mais visíveis são Pedral e Alvarelhão.

    Sub-região de Paiva integra o concelho de Castelo de Paiva e parte do concelho de Cinfães. As castas tintas Amaral e Vinhão, atingem a maturação ideal produzindo vinhos com muito prestigio. As castas brancas são Arinto, Loureiro, Trajadura e a Avesso, casta complicada mas que se integra muito bem nesta área.

    Sub-região do Sousa integra os concelhos de Paços de Ferreira, Paredes, Lousada, Felgueiras, Penafiel e, no concelho de Vizela, uma freguesia de Vizela e uma de Barrosas. As castas brancas são Arinto, Loureiro e Trajadura, e as castas Azal e Avesso que têm uma maturação mais difícil. As castas tintas são o Borraçal, o Vinhão, o Amaral e o Espadeiro, esta última usada para a produção de vinhos rosés.

Voltando ao almoço...

O Turra Craft 2019 é um projeto que este ano aposta na casta Arinto. O vinho produzido em cuba de inox, com batonage diária durante 3 meses, apresenta-se cheio de aromas primários — olores originários da qualidade da casta, sem influência do estágio em garrafa ou outro tipo de fermentação — pois é pretensão dos seus donos que seja bebido agora. Aqui está discreta e sem aspirações particulares em exuberância aromática...todavia, crepita na boca no primeiro golo, com os elevados componentes fenólicos, a textura e a corpulência.
Vinho seco, com acidez vibrante, 12,5% de grau alcoólico, muito equilibrado, este Craft que é muito mineral, volumoso, até um pouco rugoso fez pairing com o Bacalhau Assado à Grade. Gostei de o beber com Aletria e castanhas assadas, embora não seja o ideal. É vinho para pratos de bacalhau.

Uma nota de prova do meu Livrinho

Turra tinto 2018 é um monocasta da casta Vinhão. Contrariando o usual da região, este vinho é um vinhão delicado. Aqui, vê-se a filosofia do enólogo, que desde a uva até ao engarrafamento mimou cada processo.
Para começar, as uvas foram colhidas muito depois das vindimas das outras castas, já com sobre-maturação da uva. É desengaçado e, sem sofrer curtimenta, é fermentado sem massas, como se faz com os vinhos brancos. Além disso, estagia seis meses em cuba e não se permite a fermentação maloláctica. 
É um vinho de uma cor menos carregada e opaca que os seus irmãos, os outros vinhos de vinhão, que são bebidos em malgas e que marcam tudo. O seu aroma remete-me a caramelo e morangos e o seu sabor mais delicado, é seco, com uma acidez bem casada com os taninos, e com o teor alcoólico de 12,5%. Um corpo mais delicado que os outros da sua casta, não possui aquela rugosidade que os define. Um vinhão para se gostar e pedir mais, que cativa pela sua originalidade. Sugiro um Pica no Chão como paring para este mimo.
 
Mesmo em época Covid-19, pode viver-se bons momentos com amigos, qb, em restaurantes que como este, Restaurante Grade, em Leça da Palmeira, respeitam e promovem bons métodos de controlo da pandemia, com vinhos portugueses que merecem ser bebidos e consumidos.

Chim chim à vida! 
Chim chim a bons momentos!
Chim chim, Turra!


Enjoy, please!


Até breve

Menina do Livrinho . wine


O mapa exposto neste artigo foi retirado do site da Região dos Vinhos Verdes.
Legenda de cores: termos técnicos - verde; castas - preto bold; vinhos - azul

Comentários

Relembrando o início | Quinta da Casa Amarela Para sempre ... Vintage 2017 | Port Wine Day Dia 1 | aMar Matosinhos Cliff Richard no Copo | Vida Nova Paixão de Patrícia | Rosa da Mata menina do livrinho