Todos me perguntam, como tenho coragem de provar e deitar fora, logo a seguir. Detesto a palavra cuspir e cuspideira. Mas não conheço outra e, os sinónimos no dicionário não são melhores...

Tudo isto para dizer que na prova de hoje, Prova de vinho Vertical Legado, na ViniPortugal não o fiz. Bebi as amostras que tinha no copo. Deliciosas!

Luís Sottomayor, o enólogo apresentou-o: "Não é um vinho perfeito! Não era o que pretendia o Sr. Fernando Guedes. É um vinho no seu estado puro, de uma vinha de características especiais."

Legado é produzido com uvas de uma vinha na beira do rio, em Ervedosa, no Douro, com uma altitude muito baixa, e que se supõe, serem de 1910, onde os seus patamares, uns duplos, outros simples, serem pré-filoxéricos — anterior a 1868 — cheios de pedras e muito xistosos.

Esta vinha centenária tem as suas castas misturadas todas identificadas. É um field blend de 20 castas ancestrais, Tinta Barroca, Tinta Roriz, Tinta Amarela, Touriga Francesa, Touriga Nacional, Tinta Cão, Tinta Nevoeiro, Donzelinho, Rufete, Tinta da Barca, entre outras.

A vinha velha e frágil depende de uma "viticultura humana", em que cada pé é tratado individualmente e de acordo com as suas necessidades, sofrendo um trabalho de precisão durante o processo vegetativo, como as podas e os alimentos que são administradas às raízes profundíssimas — uma história de amor entre a vinha e o viticultor.

A vindima é separada em três momentos, que depende de várias características, como é o caso das orientações solares que os terrenos da vinha possuem (umas a Norte, outras a Sul e outras a Este), das diferentes maturações da uva, de diferentes características da vinha e das diferentes altitudes do local. Nos oito hectares a vindima inicia-se com a parcela com a maturação mais precoce e termina-se na que tem a maturação mais tardia e maior altitude. Neste processo há espaçamento temporário de um mês.

A fermentação dura uma semana e o estágio que começou por ser em barricas novas de carvalho francês de 225 litros, nos últimos anos passou a tuneis novos de 1250 litros, também de carvalho francês, dura 30 meses.

Antes de se engarrafar e aí estagiar durante um ano, faz-se o loteamento dos vinhos das três vindimas, sem nenhum tipo de colagem ou filtração.

Notas do meu livrinho

— Legado 2009, vem de um ano muito quente, onde a vindima foi feita em agosto. O olor é intenso a fruta madura, cereja, e a um ligeiro fumado. Na boca sente-se a fruta viva e muita acidez, que acompanham a meiguice, a elegância e o fim de boca. Tem um volume alcoólico de 15% e, é o meu preferido desta prova.

— Legado 2011 chega de um ano quente e mais húmido que 2009, onde a vindima já foi realizada em setembro. De olor menos intenso, na boca notam-se especiarias, com predominância de pimenta preta e um pouco de cacau. Também tem um teor alcoólico de 15 % e ao fim de largos minutos o seu olor abriu e intensificou.

— Legado 2014 é o que possui olor mais evoluído, mais complexo e menos quente. Na boca é mais especiado e mais cremoso. O seu ano de produção foi num ano mais frio que os anteriores, com primavera quente e verão chuvoso.

— Legado 2016 chegou fruto de um inverno seco, uma primavera chuvosa e um verão ameno. Os seus taninos são presentes, as amoras vivas e pretas, e a pimenta e o fumo são características do seu sabor. sugiro que ainda seja guardado mais uns anos antes de o consumir.

Estes vinhos são todos muito secos, ácidos, vivos e elegantes.

as maiores diferenças são o tempo de cada ano, condição incontrolável e na variação do estágio em madeira. Uma "nova" referência que se assume como vital no panorama vínico português.