Quinta do Tamariz, lugar de vinhos com história

« "...hua casa torre de dous sobrados e hua cozinha terreira com  duas casas no pateo terreiras e sua crasta. Hua adegua com o seu alaguar." Refere-se igualmente a "hua cassa y que mora Pedro Diaz caseiro com cinquo quartos e hum palheiro" a que se juntam "hua seara de vinha toda cerquada de mato e balo..." ... Ou seja, anteriormente a 1548, a atual quinta do Tamariz já era ocupada sobretudo no cultivo da vinha e na produção e guarda dos seus vihos.»  Um extrato do livro, onde se lê a descrição da quinta, retirada de um manuscrito de 1548, do Arquivo Distrital de Braga.

Foi com estima que participei no lançamento do livro "Quinta do Tamariz, lugar
de vinhos com história" apresentado pelo dono do quinta, Dr. António Borges Vinagre e sua esposa, D. Maria Francisca, a quarta geração.

A relação com a quinta começou quando o seu bisavô, Alfredo Vinagre, a adquiriu para oferecer de presente de casamento, à sua avó. Depois da passagem de diversos viticultores e enólogos pela sua quinta, o Casal Borges Vinagre, em 2017 revitaliza a marca, com nova enologia, novos rótulos e com um projeto de enoturismo.

Tudo começou no Palacete Silva Monteiro, sede da Comissão de Viticultura da Região dos Vinhos Verdes - CVRVV.

Dra. Dora Simões, a presidente da comissão, recebeu a família Vinagre, o autor Prof. António
Barros Cardoso e os seus convidados no lindíssimo palacete sobre o rio Douro, outro marco histórico, mas na cidade do Porto, e nos mostrou a exposição patente naquela sala de vários artefatos, prémios, garrafas, livros, fotografias, camélias frescas, vindos do Tamariz.

Aqui viajamos por centenas de anos de uma quinta histórica, em Fonte Coberta, Barcelos, que foi oferecida, vendida, trocada, até aos tempos de hoje, mas onde existiu sempre "hua seara de vinha toda cerquada de mato e balo...".

Durante esta viagem de história relatada pelo autor, o meu copo foi visitado por dois vinhos, mais novos e à venda atualmente, o Quinta do Tamariz Superior 2017 e o Quinta do Tamariz Vinha de Landeiro Reserva Branco 2022.

Seguidamente, fomos conduzidos para a biblioteca da comissão, onde cheios de prazer realizamos uma prova de vinhos muito especiais dos anos 1980, 2004 e 2013, apresentados pelo enólogo do projeto, Jorge Sousa Pinto.

Este referiu a "...ousadia do dr. Borges Vinagre guardar os seus vinhos mais de 40 anos e os servir hoje" ... " vinhos que envelheceram com dignidade.". também referiu, que desde que entrou no projeto foram esquecidos produção de grandes volumes e de grandes vendas, valorizando a produção de grandes vinhos e a diferenciação daquele terroir.

Também gostei da descrição que o Jorge fez do Loureiro existente na quinta, casta que se estima que ocupe cerca de 80% do encepamento e que "gosta de cheirar e ver o mar", que lhe confere características muito próprias.


Nota de prova do meu Livrinho 

— Quinta do Tamariz Grande Escolha 2013

    As castas — Arinto (70%) e Alvarinho (30%)
 
    Aspeto — A intensidade da cor é média alta e a cor é dourada.

    Nariz  — A intensidade é média alta, com aromas a cera de abelha, mel e fruta branca.

    Boca  — É um vinho seco, de acidez média alta, e o final de boca é persistente. É um vinho magro, especiado no meio da boca e com umas notas lácteas. Mostrou-se mineral e crocante, passados quinze minutos de estar no meu copo.

— Quinta do Tamariz Loureiro 2004

    As castas — Loureiro
 
    Aspeto — A intensidade da cor é média alta e a cor é ouro velho.

    Nariz  — A intensidade do aroma é média menos, ou seja, mais delicado que o anterior. Senti aromas a tangerinas e chá.

    Boca  — É um vinho seco, de acidez média alta. Os 20 anos bem preservados podem ter beneficiado da alta acidez e da lenta evolução de envelhecimento que esta casta apresenta na quinta. A maior percepção na boca, deste vinho, é a alperce.

— Casa de Landeiro, adamado branco, 1980

Um vinho branco com 43 anos da Casa de Landeiro, cuja marca está ligada à história da família, foi o destaque da prova. Tanto para mim quanto para os demais convidados presentes, a oportunidade de degustar essa preciosidade revelou-se uma experiência sensorial memorável. O vinho demonstrou possuir ainda uma vitalidade e presença pouco comum para um vinho velho.

    As castas — possivelmente Loureiro
 
    Aspeto — A intensidade da cor é média alta e a cor é dourada. A cor não é indicativa da idade do vinho.

    Nariz  — A intensidade é alta, com aromas a hortelã pimenta, erva príncipe e folhas de charuto, rico em aromas terciários.

    Boca  — É um vinho velho, onde a característica que destaco é a frescura e o lado herbáceo e o enorme prazer de o beber!

Beber um vinho desta idade, só mostra a qualidade da produção do vinho na Região dos Vinhos Verdes!
Uma região onde os maiores consumidores caiem no erro de preferirem e só adquirirem o vinho do ano, com receio de que fora deste principio o vinho se encontre estragado! 
Grande erro!

Permitam-se beber vinhos da região dos Vinhos Verdes com idade! 

Colecionando grandes momentos!

Até breve, 

Menina do Livrinho . Wine





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