Ali já...

O fim de semana levou-me a Alijó e à sua feira vínica, Alifeira. É incrível como tenho descurado as minhas provas na região noroeste do país. 
A viagem é tão fácil e rápida. O tempo voou com uma boa companhia, a minha amiga G, e este trajeto, que já fiz mil vezes, teve um novo encanto pela quantidade de vinhas que encontrei pelo caminho. Sou uma pessoa de imagens, de paisagens, de cor, de luz e de pormenor, e até hoje o meu apelo sempre foi para o rio Douro e as suas encostas. Que vinhas tão encantadoras e que vinho produzem!
Nuns abrasadores trinta e oito graus centígrados, iniciei a prova, com Fingerprint, o aroma da minha paixão, o Rabigato, misturado com Gouveio, a quem me rendo com prazer, num vinho que o enólogo Pedro Guedes produz com mestria. Na boca, senti a impactante sensação de boca cheia, num creme adquirido com a batonnage e os 18 meses de estágio, realizados em barrica. Numa tarde tão quente como esta, a frescura e acidez misturadas com mineralidade e fruta não poderiam estar melhor. 

Como recomendo o Fingerprint Branco de 2016 e o quero na minha garrafeira!
Este rótulo é uma impressão digital que relaciona visualmente o terroir do Douro, que com as suas linhas e socalcos induzem aquela imagem, e a singularidade de cada vinho produzido, com o carácter, visão e gosto impostos pelo Pedro. 
Fiz uma mini vertical do Fingerprint Grande Reserva Tinto, nos anos 2015, 2016 e 2017. É tão engraçado sentir a evolução de vinho ao longo do tempo. Este vinho foi produzido com as castas Touriga Nacional, Touriga Franca e Tinto Cão. A vindima é feita nas horas quentes do dia, ao contrário da maioria dos enólogos portugueses, que procuram a frescura da manhã, um procedimento que este enólogo adquiriu durante as suas viagens pelo Novo Mundo vínico. As uvas chegam ao lagar com vinte e oito graus centígrados, onde ficam por cinco dias a serem pisadas a pé. Depois disto, o mosto fermenta em cuba inox e faz um longo estágio numa mistura de barricas novas e usadas. O de 2016, o meu preferido, tem o aroma de um ramo de violetas quase negras. Bebê-lo fresco, faz com que seja possível degustá-lo sem comida, pois sobressai uma acidez violácea requintada com notas de fumo, onde os taninos são bombons doces e redondos.
No projecto Piano, apresentado pelo enólogo Valter Silva, o Piano Reserva Branco surpreendeu-me pelo volume e pela sua tropicalidade. Um vinho com uma relação qualidade/preço simpática.
Nos vinhos do projecto Mapa, apresentado pelo enólogo Sérgio Mendes, terminei a prova em glória com o cativante Mapa Colheita Tardia de 2015, produzida com as castas Moscatel, Gouveio, Viosinho e Malvasia Fina, já muito atacadas pelo fungo que origina a podridão nobre, a Botrytis cinerea. A cor de palha e os aromas a frutas tropicais maduras, como maracujá e abacaxi, brincaram na minha boca com uma acidez equilibrada e um final longo e gracioso.
Da Wine and Soul, bebi o Vinho do Porto Tawny 10 anos, original por ter envelhecido em barricas antigas de madeira do Castanho Português. Contaram-me que embora seja um 10 anos, o seu estágio foi superior a 15 anos, o que deu a este vinho sabor de figos e mel, com um subtil aroma a nozes e passas, sabor que se manteve longamente na boca.
Na Grand Cruz, o Fábio Maravilha serviu-me Quinta de Ventozelo Malvasia Fina, com a sua frescura e mineralidade, e como disse o enólogo, "com cheiro a dia de chuva em pedras de xisto". Perfeito para refrescar um dia ardente. O Rosé de Ventozelo com o seu rosa pálido contrasta com todo o sabor a um intenso e cremoso morango, numa frescura mineral. Uma opção suave para um dia na piscina. 
Ainda há pouco tempo um amigo comentou que havia poucos produtores que marcassem a diferença em trás-os-Montes. Nesta feira, cruzei com o Palácio dos Távoras, de Mirandela, e fiquei rendida. A primeira prova foi o Palácio dos Távoras Vinhas Velhas 2016, onde a madeira, ainda notória, deixa adivinhar um grande vinho. De seguida, a casta que tem vindo a ganhar a minha admiração, a Bastardo, no vinho Palácio dos Távoras Bastardo 2018, com uma deliciosa cor vermelho tijolo muito aberta, tem um aroma doce a frutos silvestres, acompanhado por uma acidez, elegância e suavidade.

Adorooooo! Este vinho, garantidamente, vai ser meu cúmplice de alguns bons momentos com o meu Bando. 
Já o Palácio dos Tavoras Alicante Bouchet é o oposto do Bastardo. Um vinho com uma cor escura e carregada, com um aroma a frutos vermelhos muito maduros que acompanha a cremosidade de um quadrado de chocolate na boca. Tão bom!
Viva este Trás-os-Montes.
Para concluir provas, conheci a D. Júlia e os seus vinhos fortificados da Fragulho - Casa dos Lagares. Esta senhora, que me encantou imensamente com os seus conhecedores oitenta e picos anos, contou histórias de vida e de vinho, enquanto provava um Fragulho Vinho Moscatel Reserva 2011, o melhor que bebi até hoje. 
Foi espantoso descobrir que somos colegas de escola com um intervalo de algumas décadas! 
Este moscatel do Douro fortificado, ou seja, um vinho onde a fermentação foi interrompida com a adição de aguardente, estagiou em tonel durante 42 meses, tendo adquirido a doçura na fortificação e a complexidade e concentração no seu estágio, mantendo a sua exuberância aromática que tanto o define.

Devo dizer que só referencio os vinhos de que mais gostei dos que tive oportunidade de provar. 
Sou uma afortunada!
minha garrafeira está em franco crescimento.
Um dia bem passado entre boa gastronomia e boa amizade.

Até breve,


Menina do Livrinho . wine

Comentários

  1. Olá! Comprei um vinho Fingerprint. Ainda não abri. Estou contente por saber que vou gostar.

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