Irlanda e a sua bebida rei, o whiskey

Num dos meus passeios fui à Jameson Distillery, em Midleton, na Irlanda. 

Embora apreciasse whiskeys e de alguma forma imaginasse o processo, não o conhecia como hoje.
A destilaria remonta a 1867, quando os irmãos Murphy decidiram mudar os seus negócios e se unir a quatro destilarias, criando a Cork Distilleries Company.
Esta, em 1966, fundiu-se a duas famosas destilarias de Dublin, Powers e Jameson, que pouco depois levaram a produção de whiskeys de Dublin para Midleton, onde permanece nos dias de hoje.

Os ingredientes principais desta bebida são cevada, malte, milho e água.
A cevada entregue exclusivamente pelos agricultores locais é submergida em água, onde fica a germinar durante 4 dias. Antes de ser armazenada, a cevada germinada, chamada de malte, é seca em fornos alimentados a carvão (antracite), um carburante sem aroma ou sabor (um dos pormenores decisivos que o distingue dos whiskeys escoceses e americanos).
O armazenamento é feito no celeiro, o maior edifício do complexo, que, quando repleto, alberga 50 toneladas de grãos. As diversas janelas servem para arejar o espaço devido ao pó que se vai acumulando.
O edifício do moinho, um resquício do primeiro negócio dos irmãos Murphy, foi utilizado até 1975 para moer a cevada e o malte, e os transformar em farinha.
De seguida, dá-se inicio à elaboração do whiskey. Este processo consiste em misturar a cevada e o malte com água quente. Nesta etapa, a maceração, o amido dos cereais é transformado em açúcares fermentáveis. O líquido resultante, o mosto, é depois transferido para cubas.
Nas cubas, dá-se inicio à fermentação, adicionando-se leveduras ao mosto, que, como resultado, produz álcool e dióxido de carbono, num processo que demora três dias. O líquido resultante chama-se "wash" e contém aproximadamente 10% de volume alcoólico.
Por fim, alcança-se a etapa da destilação, que se dá num alambique de cobre. A marca Jameson possui o maior do mundo, com uma notável capacidade de 144 000 litros.
O resultado final das três destilações no alambique contém cerca de 84% de álcool, e apresenta-se como um licor muito puro.
Antigamente, o triplo processo de destilação decorria com o enchimento do primeiro alambique de cobre com o "wash" resultante do processo anteriormente descrito. Depois, acendia-se uma fogueira por baixo para elevar a temperatura. Simplificando, a destilação é o processo em que se separa o álcool da água. O álcool evapora aos 78ºC, enquanto a água evapora aos 100ºC. Logo, os primeiros vapores são álcool. Estes vapores voltam a condensar num nova tina, formando um líquido de teor de álcool superior. O processo repete-se mais duas vezes.
Hoje em dia também se usa a destilação contínua, que consiste numa mistura de malte e milho, que, da mesma forma, dá origem ao "wash", e é chamado whiskey de grão. A diferença está em que em vez de se destilar três vezes em alambique de cobre se faz uma tripla destilação em coluna de destilação contínua. O licor deste whiskey contém aproximadamente 94% de álcool.
Para se fabricarem diferentes qualidades de whiskeys, misturam-se barris de whiskeys de alambique e barris de whiskeys de grão.
Em 2015, foi construída uma micro-destilaria, que possui três alambiques de menor dimensão. O primeiro tem uma capacidade de 2500 litros, para destilar o "wash". O segundo alberga a segunda destilação, "feints," e o terceiro produz a destilação final, a "spirit", e tem uma capacidade de 1500 litros. Estas perdas de volume durante as destilações são as responsáveis pela excelente qualidade e o elevado preço.
Por fim, cheguei à adega.
A adega da Jameson data de 1830, e, por lei, nenhum whiskey irlandês se poderá chamar tal se não tiver pelo menos um estágio em barricas de Carvalho igual ou superior a três anos. Há dois tipos de barricas. As barricas encomendadas aos EUA, que são de Bourbon e têm uma capacidade de 200 litros, e são de Carvalho Branco (Quercus Alba), com a superfície interna carbonizada para acrescentar notas doces de baunilha e caramelo.
As barricas  encomendadas em Espanha são de Xerez e têm uma capacidade de 500 litros, a madeira utilizada é Carvalho europeu (Quercus Roubar), passada somente pelo lume de forma a tostar e não a carbonizar para acrescentar notas de fruta carnosa, bagas vermelhas, que fornecem tonalidades arruivadas ao whiskey.
No Jameson, o whiskey estagia pelo menos quatro anos  e tem uma perda de cerca de 2% do seu volume por ano, uma quantidade generosa no quarto ano (16 litros em 200 litros). A esta perda os irlandeses chamam "a parte dos anjos", pois é inevitável para aferir a qualidade angelical que desejam e uma das razões de o whiskey ser mais caro com a 'idade em barrica'.
No final da experiência, deram-me a provar três whiskeys: um americano, um escocês e um irlandês. 
O rigor e as diversas destilações enriquecem o Whiskey irlandês em aromas e sabores.



Que dia tão cheio e molhado!
Na Irlanda, tudo é chuva, tudo é água. O que me leva a um dos segredos desta bebida — a diluição do whiskey puro com água do rio para se obter o resultado final, um volume de 40%, que é a percentagem universal para um whiskey convencional (e também seria ilegal vender bebidas com 94% de álcool!).

Uma curiosidade é a escrita da palavra. 
Na Escócia e no Canadá escreve-se whisky e na Irlanda e nos EUA escreve-se Whiskey. Há outra teoria. Baseia-se no número de destilações da bebida. No whisky ocorrem 2 destilações e no whiskey ocorrem 3. Mas esta teoria exclui os EUA onde a destilação só ocorre uma vez. 
O whiskey irlandês é o único que se destila três vezes. Já o whiskey escocês destila-se duas vezes e, o americano, apenas uma.


Até breve,

Menina do Livrinho . wine

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